sexta-feira, 7 de outubro de 2011

 
Análise: Disputa política agrava impasse na greve dos Correios
Por Raymundo Costa | Valor
BRASÍLIA – A disputa pelo controle político-sindical dos Correios está na origem do impasse na negociação do dissídio dos carteiros. PT, PSOL, PSTU e PCdoB travam uma batalha permanente pelas bases dos 35 sindicatos representantes da categoria em todo o país.
Num quadro de conflito político como esse, a tendência ė a radicalização: os carteiros apresentaram uma proposta de aumento linear de R$ 400. Depois, passaram a aceitar R$ 200. No fim, concordaram com R$ 80, após árdua negociação no TST.

Sem acordo, a Justiça do Trabalho vai arbitrar a disputa e pode estabelecer uma tendência no Judiciário em relação aos dissídios previstos para este final de ano, o que preocupa o governo por causa da inflação.

Entre outros, estão em greve os bancários. No serviço público, Receita Federal e Polícia Federal enviaram recados ameaçadores ao Palácio do Planalto.
O governo está preocupado com o recrudescimento das greves neste último trimestre e com a concessão de aumentos reais.
No caso dos Correios, a empresa resolveu fazer concessões, mas só negociou efetivamente após a entrada em cena do presidente da CUT, Artur Henrique.
Inicialmente, o aumento linear de R$ 80 acordado na Justiça do Trabalho era previsto para ser pago apenas a partir de 2012. Mas o presidente da empresa, Wagner Pinheiro, já entrou na Mesa de Negociação sem disposição alguma de negociar os dias parados. Segundo Pinheiro, o desconto dos dias parados é regra, e não exceção nas negociações de greves.

Os carteiros estavam acostumados a negociar os dias parados em todas as seis greves que fizeram durante o governo Lula, inclusive com o próprio presidente da República. Wagner acha que os servidores não levaram a sério suas advertências. Na realidade, trata-se de posição de governo.
PSOL e PSTU foram os partidos que criaram maiores dificuldades na negociação, que voltou à estaca zero e deve ser decidida pelo TST. Há muitos problemas na negociação pelo fato de serem 35 sindicatos, quatro siglas de esquerda disputando seu controle e uma desconfiança da categoria em relaçāo a Wagner Pinheiro, presidente da ECT: grande parte dos sindicalistas acha que ele trabalha para privatizar a empresa.

Pinheiro, no entanto, assegura que a privatização não esta nos planos da ECT. Pelo contrário, a ideia é expandi-la, inclusive com atuação fora do país.
A divisão partidária dificulta a negociação, cada grupo aproveita o momento para ser mais radical que o outro, com fins eleitorais: a eleição na Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentec) é no início do próximo ano.

A Fentec é a interlocutora de uma categoria com 35 sindicatos. Seu presidente, José Rivaldo da Silva, saiu enfraquecido ao não conseguir que os trabalhadores ratificassem o acordo. Já houve casos em que os diversos sindicatos foram voltando ao trabalho progressivamente. Na última greve, alguns sindicatos voltaram após quatro dias do encerramento da paralisação e outros, 12 dias após.
(Raymundo Costa | Valor)

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