Inspeção veicular
Nas rodas de conversa, ontem, o assunto predominante não era a posse de Domício Arruda na Secretaria de Saúde, nem a escolha do comando da PM, muito menos o liseu do governo do Estado. Nas filas dos bancos e supermercados só se ouvia falar na inspeção veicular, presente de ano-novo para os 700 mil proprietários de veículo. Na página da TN na internet foram dezenas de comentários. Pescamos um deles:
“Ninguém contesta a importância de verificar os gases dos veículos a motor. Na Europa faz mais de 15 anos que essa obrigação existe. O que é realmente escandaloso é o valor que o automobilista deve pagar: R$ 113. Em Portugal cobram apenas 17 reais! Na Itália fica um pouco mais caro, (cerca de 27 reais) mas em compensação o controle pode ser efetuado em qualquer concessionário ou oficina mecânica sem ter que agendar ou enfrentar filas. Além disso, caso seja necessário, a própria oficina efetua imediatamente os ajustes oportunos para que o carro se torne conforme à Lei. Os carros novos estão isentos desse controle. Reparem, enfim, que na Europa a mão de obra é muito mais cara que no Brasil, mesmo assim os valores a pagar são bem inferiores!”
Daqui até o dia de São Sebastião ainda temos de pagar IPTU, material escolar, IPVA, taxas do Detran e Seguro Obrigatório.
Procurador Geral de Justiça convoca reunião para discutir problemática da inspeção veicular
Ricardo Araújo - repórter
O Procurador Geral de Justiça do Rio Grande do Norte, Manoel Onofre Neto, irá se reunir na sexta-feira (7) com a promotora do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça da Cidadania, Daniele Fernandes, para discutir a problemática em torno da cobrança da inspeção veicular.
A partir de um e-mail encaminhado por um leitor da TRIBUNA DO NORTE ao Procurador Geral, e diante da repercussão do assunto na sociedade e redes sociais na Internet, ele decidiu estudar o caso. Num primeiro momento, haverá uma reunião com a promotora Daniele Fernandes e, em seguida, serão montadas estratégias conjuntas com os promotores que atuam nesta área.
Leia abaixo o e-mail enviado ao Procurador. O leitor que enviou terá seu endereço eletrônico preservado.
Prezado representante do Ministério Público,
Na condição de cidadão, venho por meio desta, denunciar o governo do estado do Rio Grande do Norte e consórcio INSPAR, de forma preventiva, tendo em vista que a partir de 10 de janeiro de 2011, será obrigatória a todo proprietário de veículo automotor uma inspeção veicular, conforme vem sendo noticiado na imprensa deste Estado, levantando em conta as seguintes considerações: 1-) Não seria razoável que a inspeção veicular dos automóveis iniciasse com os veículos que tem mais de 5 anos de uso e os veículos pesados como caminhão e ônibus? Tendo vista que os veículos mais leves e novos, em regra, não apresentam problemas que levem a poluição ambiental, considerando que tais veículos já foram fabricados de acordo com as regras estabelecidas nas Resoluções do CONAMA, de nº 299/2001 e a de nº 297/2002? 2-) Não seria abusivo o valor individual a ser cobrado a cada proprietário de veículo? Numa simples operação matemática, constatamos que será arrecadado aproximadamente OITENTA E UM MILHÕES DE REAIS (700.000 veículos x R$ 68,90 700.000 veículos x R$ 45,00). Tal valor parece embutir um lucro considerável para a concessionária INSPAR, sendo necessário, em respeito ao princípio da publicidade e da transparência dos atos administrativos, que a mesma divulgue a sociedade a planilha orçamentária dessa inspeção, para que todos tenham conhecimento dos custos desse serviço, em respeito ao código do consumidor e a constituição federal 3-) Não estaria sendo violado o princípio constitucional da capacidade contributiva? Na medida em que os tributos devem ser cobrados conforme a capacidade econômica de cada contribuinte? No caso em tela, percebemos que a taxa de R$ 68,90 será cobrado independente do valor do automóvel. Seria justo então, cobrar o mesmo valor de um proprietário de veículo popular e de um empresário, que tenha um ônibus ou caminhão que comprovadamente poluem muito mais o meio ambiente? Será que a técnica utilizada para inspeção de veículos tão distintos apresenta o mesmo custo tarifário? 4-) Conforme noticiado no site da INSPAR (*), o selo eletrônico objetiva ampliar e facilitar o poder de fiscalização dos veículos, no sentido de que haverá uma espécie de radar eletrônico que alertará quais os veículos estarão inadimplentes com a inspeção veicular, nos próximos anos . Dessa forma, é forçoso concluir que até a fiscalização da inspeção veicular, que a princípio deveria um ônus da Administração Pública, será custeada pelo contribuinte. Sem olvidar que a instalação de um selo eletrônico, que conterá os dados dos veículos e de seus proprietários, precisar ser objeto de análise profunda por parte do Ministério Público, pois tal controle pode está violando o direito de privacidade de cada cidadão potiguar proprietário de veículo automotor . (*)http://www.inspar.net.br/website/selo.html 5-) Não há informação se os órgão ambientais estaduais ou municipais realizaram inventário de emissões de fontes móveis e o monitoramento da qualidade do ar, visando a redução da emissão de poluentes em nosso Estado, apontado as alternativas de ações de gestão e controle da emissão de poluentes e do consumo de combustíveis, incluindo-se, se for necessário, um Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso, consoante determina o art. 4º da Resolução nº 418/2009 do Conama (**). Além disso, o governo do estado, sem nenhuma fundamentação técnica, definiu que toda a frota de veículos do Estado seria inspecionada, o que vai de encontro com o Art. 6º da referida Resolução. Além disso, a nosso ver, o foco dessa norma são as cidades com mais de três milhões de veículos (art. 5º), onde a qualidade do ar e a emissão de poluentes são motivos de grande preocupação por parte das autoridades locais. Neste aspecto, é sabido que a cidade de Natal possui um dos melhores climas das América Latina, conforme já foi constatado pela NASA, sem deixar de mencionar que o número de veículos não supera meio milhão. Sendo assim, que sentido teria a inspeção veicular em nosso Estado? A sociedade precisar conhecer o inteiro teor do inventário de emissões de fontes móveis e o monitoramento de qualidade o ar, por município, para ter certeza se realmente é necessário a implantação de um programa de inspeção de manutenção de veículos em uso, nos moldes em que está exigido pelo Estado do RN no presente momento. Diante do exposto, solicito aos nobres representantes do paquet que tomem as medidas judiciais necessárias e impeçam que a empresa INSPAR inicie a inspeção veicular no RN nos moldes atuais, pois não restam dúvidas, conforme questionamos acima, que ela viola os princípios constitucionais da publicidade, da privacidade, da razoabilidade e da capacidade contributiva dos cidadãos potiguares.
Tribuna do Norte
Inspetrans fez estudo para o PCPV
Ricardo Araújo - repórter
Com menos de um milhão de veículos (entre ônibus, motocicletas, caminhões e automóveis) circulando por todo o Estado e com uma das frotas urbanas mais novas do país, além da privilegiada posição geográfica que favorece os ventos e a renovação do ar, a adoção da inspeção veicular obrigatória no Rio Grande do Norte é, no minimo, questionável.
Todo o caso começa com a resolução 418 de 25 de novembro de 2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que orienta os estados e o Distrito Federal a criarem um Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV). Para cumprir essa resolução, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte (Idema), encomendou ao Detran/RN um estudo detalhado com o intuito de traçar uma estratégia de planejamento e ação no tocante ao controle do crescimento dos níveis de emissão de gases poluentes pelos veículos que circulam no estado.
O decreto 21.542 de 24 de fevereiro de 2010 assinado pela então governadora Wilma de Faria, autoriza a criação do PCPV Estadual. Anexo ao decreto, está o resumo do estudo encomendado ao Detran/RN, teoricamente produzido seguindo as exigências expostas na resolução do Conama. No texto, são citados apenas as participações da UFRN e Detran, mas documentos obtidos pela TRIBUNA DO NORTE mostram que o estudo também teve a participação de uma das empresas – a Inspetrans - que, mais tarde, formou o consórcio ganhador da licitação para as inspeções obrigatórias.
Além dessa participação, o estudo não traz especificados os níveis de poluição do ar no Estado nem as análises das emissões de gases, por amostragens, na frota de veículos locais. Os dados mais consistentes dizem respeito a frota de ônibus e são contestados pela Fetronor que tem programa próprio de controle da poluição por gases.
Já na introdução, o texto do estudo sugere que somente uma amostragem de emissões de gases em ônibus foi utilizada e os resultados generalizados para toda a frota potiguar. Diz o texto: “as análises foram procedidas in loco, nas garagens de todas as empresas concessionárias do serviço público de transporte urbano da capital”. De acordo com a resolução do Conama, a inspeção para análise do quantitativo de gases poluentes liberados na atmosfera, deve ser realizada em todos os tipos de veículos automotores, não somente em ônibus (Art. 3).
Outros dados apresentados pelo estudo também generalizam os índices de aumento da frota por todo o interior do Rio Grande do Norte, sem estudos localizados em qualquer outra região que não a capital. Uma das exigências do Conama é que as analises e as necessidades – ou não - da implantação de um programa de inspeção e controle da emissão de gases veicular seja definida tanto geograficamente quanto por especificidade da frota (art. 6º e parágrafos).
De acordo com técnicos da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor), o estado tem hoje uma frota de cerca de mil ônibus, entre os que fazem o transporte de passageiros intermunicipais e os que circulam na zona urbana e metropolitana da capital. Deste universo, apenas 241 foram analisados e alguns deles, mesmo sendo novos (com menos de 5 mil quilômetros rodados e fabricados no mesmo ano da inspeção) foram reprovados no estudo que subsidiou o PCPV.
A reprovação de alguns ônibus, de acordo com a análise técnica da Fetronor, é praticamente impossível. Visto que, desde 1997, com a implantação do Programa Despoluir, toda a frota do RN é analisada e nenhum dos veículos novos havia sido reprovado. Em 2010, empresas como a Guanabara e Conceição, por exemplo, compraram novos ônibus que não passaram pelos testes realizados pelo Detran e UFRN. Dos 1.287 ônibus analisados no Despoluir/Fetronor, somente 253 não obtiveram um desempenho satisfatório, dentro das exigências do Conama e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
o estudo
No texto do estudo, anexo ao decreto do governo, não consta nenhuma referência a empresa Inspetrans. Entretanto, o técnico Eduardo Viana de Sousa assina um dos laudos reprovando um ônibus da Via Sul (que havia sido adquirido pouco tempo antes da inspeção e tinha 4.234 quilômetros rodados).
Questionado sobre a ligação da Inspetrans com o estudo, o diretor do consórcio Inspar, George Olímpio, disse desconhecer o fato. “Acredito que a empresa que tem uma vasta experiência e mais de sete anos de atuação no mercado , tenha sido convidada pela sua capacidade técnica”, ressalta.
A TRIBUNA DO NORTE teve acesso a um dos documentos enviados pela Inspetrans às empresas concessionárias de transporte público solicitando a assinatura dos empresários confirmando a inspeção conforme um termo de cooperação celebrado em novembro de 2008, além do próprio laudo assinado pelo funcionário da empresa inspetora.
George Olimpio comenta que os estudos realizados pela Fetronor não apontam a realidade. “Eu garanto que os índices de emissão de gases poluentes pelos ônibus é muito superior ao que é informado pela Fetronor”. Além disso, ele afirma que uma empresa privada não deveria inspecionar os serviços de outras empresas particulares.
Tribuna do Norte