Com os juros na cabeça
A redução da taxa Selic a 9% na quarta-feira à noite pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é o evento mais esperado e o mais previsível da semana – é dado como certo pelo mercado financeiro. Em contraponto a mais esse corte do juro, os índices de inflação com anúncio previsto para os próximos dias, especialmente os da família dos IGPs, devem acelerar. Mas nada que abale a convicção do governo de que os juros devem cair ainda mais e os spreads bancários também. Inesperada é a possibilidade de que bancos privados decidam seguir a trilha aberta pelo HSBC, o sexto maior banco do país, que cortou as taxas de financiamentos logo após o ministro da Fazenda endurecer o discurso.
Está claro que o governo não vai baixar a guarda. Vai insistir no combate aos spreads elevados. E o passo dado pelo HSBC fortalece a posição do governo – sugere que há espaço, sim, para que as instituições privadas acomodem crédito mais barato na sua contabilidade. Mas o debate sobre o custo do dinheiro no Brasil está ganhando forte (e arriscado) apelo político. Os bancos – públicos ou privados – são importantes atores para o crescimento econômico e para a estabilidade da moeda.Maria Cristina Fernandes, do Valor, comenta em coluna publicada na sexta-feira que a presidente monta uma ampla aliança política para isolar o sistema financeiro na guerra do spread – aliança reforçada pela posse em julho do primeiro presidente bancário da história do CUT. Em entrevista a Raphael Di Cunto, Wagner Freitas diz que a investida contra o spread bancário será a principal bandeira da entidade sob sua presidência.
Para Freitas, atual tesoureiro da CUT e ex-caixa do Bradesco, ter um bancário como presidente da maior central sindical do Brasil vai enfatizar o pensamento de que o setor financeiro tem de ser voltado para o crescimento e desenvolvimento do país, e não para a lucratividade das seis famílias que comandam os bancos brasileiros.
Para o ex-bancário, que deve assumir o comando da entidade em breve, o setor financeiro é o que mais lucra no Brasil, mas o que menos dá contrapartidas. “Esse debate, não tenha dúvida, vem à tona com a nossa eleição”, afirma Freitas, que vê apenas os bancos públicos cumprindo o papel “de auxiliar o desenvolvimento do Brasil” e promete apertar o cerco contra o setor financeiro.
valor.com
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