Pra defender lucro de seu principal anunciante, Jornal Nacional ameaça o país com mexida na poupança
Enquanto
o país inteiro se alegra com a redução nas taxas de juros, o Jornal
Nacional toma as dores dos únicos que lamentam essa queda, bancos e seus
acionistas, especialmente o Bradesco, principal anunciante do
telejornal da Globo.
Na reportagem que abriu a edição de ontem,
o JN buscou aterrorizar a população com uma ameaça sinistra. Segundo a
reportagem, a queda dos juros vai levar o governo a mexer na caderneta
de poupança, o que seria, na opinião editorializada da reportagem, a
única forma de manter atrativos os rendimentos da renda fixa.
Para isso procurou opinião de dois especialistas favoráveis à tese,
um economista da FGV e o indefectível ex-ministro Maílson da Nóbrega.
Para dar um ar de isenção, a reportagem coloca um depoimento da
presidenta Dilma espremido entre os dois especialistas. Mas, repare as
palavras de Dilma, que deveriam derrubar a tese da matéria de uma vez
por todas:
Dilma: “O Brasil tem de buscar um
patamar de juros similar ao praticado internacionalmente. Tecnicamente,
fica muito difícil o Brasil diante do que ocorre no mundo justificar
spreads tão elevados. Eu acredito que isso será um processo de
amadurecimento do país, que vai nos encaminhar progressivamente para nós
termos juros mais condizentes com a nossa realidade”, declarou a
presidente.
Em seguida a Dilma, entra Maílson, um eterno devedor das Organizações
Globo, pois só foi efetivado ministro no governo do presidente Sarney, porque Roberto Marinho aprovou, como Maílson mesmo reconhece:
Maílson: - A Globo tinha um
escritório, em Brasília, no Setor Comercial Sul. Fui lá e fiquei mais de
2 horas com o doutor Roberto Marinho. Ele me perguntou sobre tudo,
parecia que eu estava sendo sabatinado. Terminada a conversa, falou:
“Gostei muito, estou impressionado”. De volta ao Ministério, entro no
gabinete e aparece a secretária: “Parabéns, o senhor é o ministro da
Fazenda”. Perguntei: “Como assim?” E ela: “Deu no plantão da Globo” [o
Plantão do Jornal Nacional].
Voltando ao JN de ontem. Depois da sonora de Dilma, a matéria segue
defendendo sua tese da inevitável mexida na poupança, para fechar com o
ex-ministro de Roberto Marinho:
O ex-ministro da fazenda Maílson da Nóbrega diz que é necessário, mas muito difícil mexer na regra da poupança.
“É uma questão delicadíssima do ponto
de vista político. A caderneta de poupança é a forma mais popular de
economizar dinheiro no Brasil. Tem mais de 50 anos, sem problema, sem
calote. É fácil de entender. Então, mudar a caderneta de poupança tem
que ser de forma muito bem feita, muito bem preparado, bem esclarecido”,
avalia.
Repararam? A matéria fala pelo ministro, como destaquei em negrito.
No entanto, hoje, reportagem da Folha mostra a real intenção do
governo, já expressa nas palavras da presidenta, mas boicotada na
matéria do JN.
Diz a Folha:
O governo Dilma vai pressionar mais
uma vez os bancos privados. A expectativa é que eles reduzam as taxas de
administração de seus fundos de investimentos para torná-los mais
lucrativos, permanecendo mais rentáveis que a poupança.
Ou seja: o governo não cogita mexer na caderneta de poupança. Quer
que os bancos diminuam suas taxas e tenham “juros mais condizentes com a
nossa realidade”, como disse a presidenta.
Esquece a Globo que hoje quem define a política econômica é o governo da presidenta Dilma e não Roberto Marinho.
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