domingo, 15 de novembro de 2009

Campanha de 1984 trouxe avanço à política e democracia do Brasil
Edilson Damasceno
Da Redação

Vinte e cinco anos depois, o movimento da campanha "Diretas Já", que levou jovens e adultos às ruas em 1984 e culminou com a eleição de Tancredo Neves à presidência do Brasil - em eleições indiretas -, é relembrado como elemento primordial à democracia brasileira e que culminou com a eleição pelo voto popular de presidentes, governadores, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. De lá para cá, a participação popular na política tem aumentado. Prova dessa afirmativa é vista no número crescente de movimentos sociais por todo o Brasil e também com a criação de estatutos em defesa dos direitos da criança e do idoso. Um movimento que reuniu lideranças sindicais e políticas em um só objetivo e do qual participaram adversários históricos do cenário brasileiro, como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, José Serra, Mário Covas, Teotônio Vilela, Eduardo Suplicy, Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva, Miguel Arraes, além de outras personalidades políticas nacionais.
Voltar à história significa sentir que o povo brasileiro escolheu a democracia como regime político efetivo, pondo fim à ditadura militar que se instituiu no Brasil em 1964. A professora Geovânia Toscano, doutora em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), afirma que todo processo político que permita a liberdade e a democracia representa a supremacia da soberania popular. "Claro que as Diretas Já foram uma campanha positiva que proporcionou o processo de mudança na política com abertura para a democracia", afirma.
Hoje, passados 25 anos, Geovânia Toscano diz que o Brasil vive um cenário político totalmente diferente do que se tinha em 1984, em alusão ao fato de que a mudança, do fim da ditadura militar para a entrada do regime democrático, proporcionou uma nova mentalidade política ao próprio país e que esse sentimento ainda é visto atualmente, com a frequente participação dos jovens e o interesse deles pelos movimentos sociais.
De 1984 a 2009, seis presidentes da República marcam a história da democracia, iniciada com a vitória de Tancredo Neves, em 1985, e que nem chegou a assumir devido à sua morte, deixando o cargo para o seu vice, José Sarney - atual presidente do Senado Federal. O primeiro presidente efetivamente eleito democraticamente foi Fernando Collor de Melo, que sofreu "impeachment" por acusações de desvios de verba pública. Novamente um vice assumia: Itamar Franco. Depois vieram Fernando Henrique Cardoso - que era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, e passou oito anos governando o Brasil. Por último, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, metalúrgico e petista, que foi eleito em 2002 e se reelegeu em 2006.
A análise de Geovânia Toscano é de que o Brasil avançou na política, mas isso não quer dizer que fatos considerados quase negativos não fizessem parte dessa história. A professora cita diretamente a entrada do neoliberalismo, durante os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), como exemplo. O neoliberalismo é marcado pela venda de bens públicos - privatização - e pela participação do governo em empresas privadas. Contudo, ela afirma que a politização do homem brasileiro é o que mais pode se comemorar, apesar de comentar que é preciso avançar ainda mais e que novas conquistas precisam ser feitas pelos próximos 25 anos.
Professora afirma que jovens têm maior consciência política
Jovens nas ruas, de caras pintadas, pedindo a saída do presidente Fernando Collor de Melo. Multidão acompanhando comícios de candidatos em períodos eleitorais... Tudo isso reflete a era da democracia. "Em 1984, fiz parte desse movimento e a democracia estava na efervescência", diz a professora Geovânia Toscano. Ela vê que houve avanços visíveis, tanto que o eleitor é livre para votar no candidato de sua preferência. Claro que ainda existem os chamados "currais eleitorais", mas são cada vez menos presentes que antes.
Depois de 1984, o Brasil vivenciou outro grande fato histórico: a Constituição, em 1988. Coube aos chamados parlamentares estatuintes, os primeiros eleitos com a instituição da democracia, pensar na Carta Magna Brasileira, o conjunto de leis que rege o país. "Diante de tudo isso, a gente tem a certeza de que os brasileiros passaram a ter mais consciência política", frisa Geovânia Toscano, acrescentando que ainda há espaço para mudanças. "Claro que podemos avançar ainda mais no campo da política."
Nesse rumo da história, a eleição direta, como previa e objetivava a campanha "Diretas Já", ocorreu somente em 1989, após a Constituição Brasileira. Foi nesse ano que se teve o primeiro presidente efetivamente eleito democraticamente: Fernando Collor de Melo.
A professora comenta que o mundo da política mudou a partir da campanha "Diretas Já" e da efetivação da Constituição. O fato de o Brasil ter como presidente da República um metalúrgico, por exemplo, remete ao exemplo mais completo relacionado à democracia. "Temos hoje um presidente que é tido como analfabeto, mas que está em evidência no cenário mundial", disse Geovânia Toscano.

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