sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Alexandre Lago

Sindicatos dizem que saúde pública está sendo privatizada


"Essa é a rea­li­da­de da saúde pú­bli­ca em Natal e no RN, um ver­da­dei­ro caos", disse Ge­ral­do Fer­rei­ra, pre­si­den­te do Sin­di­ca­to dos Mé­di­cos do Rio Gran­de do Norte (Sin­med), em entrevista coletiva hoje pela manhã. Se­gun­do o Sin­di­ca­to, nossa saúde está na UTI, li­te­ral­men­te. “Como agra­van­te, os go­ver­nan­tes ainda que­rem co­lo­car os doen­tes men­tais sob a res­pon­sa­bi­li­da­de dos pos­tos de saúde que, além de não terem ser­vi­ços es­pe­cia­li­za­dos, mui­tos se­quer têm es­pa­ra­dra­po ou papel hi­giê­ni­co”, acrescentou.

A entrevista de hoje foi para as en­ti­da­des sin­di­cais se po­si­cio­narem con­tra o que cha­mam de apro­fun­da­men­to da pri­va­ti­za­ção dos ser­vi­ços pú­bli­cos de saúde, que tem feito o mu­ni­cí­pio de Natal e o Go­ver­no do Es­ta­do. O Sin­med co­gi­ta tomar, in­clu­si­ve, me­di­das ju­rí­di­cas para frear o pro­ces­so de ter­cei­ri­za­ção dos ser­vi­ços do SUS.

Para os sin­di­ca­tos que pos­suem como base os ser­vi­do­res da saúde pú­bli­ca do Rio Gran­de do Norte (Sind­saú­de, Sin­med e Soern), a si­tua­ção che­gou a um ponto in­sus­ten­tá­vel.

Os médicos e servidores da Saúde apre­sen­ta­ram os pro­ble­mas en­fren­ta­dos e apon­taram pos­sí­veis so­lu­ções, além de di­vul­gar as ações ju­di­ciais ca­bí­veis que serão im­pe­tra­das por eles.

O caos na saúde pú­bli­ca não é no­vi­da­de, mas vem se acen­tuan­do muito nos úl­ti­mos meses. Atra­sos nos pa­ga­men­tos, falta de ma­te­rial e lei­tos foram apon­ta­dos como os mais ur­gen­tes. Es­ti­ve­ram pre­sen­tes tam­bém re­pre­sen­tan­tes de Caicó e de Mos­so­ró que apre­sen­ta­ram re­la­tó­rios fei­tos sobre os pro­ble­mas em suas re­giões.

As uni­da­des de saúde en­fren­tam di­ver­sos tipos de pro­ble­mas, que vão desde or­dens de des­pe­jo por não pa­ga­men­to, falta de ma­te­rial, mofo e in­fil­tra­ção no teto até a pre­sen­ça de ratos e ba­ra­tas nos lo­cais. Vá­rios pro­fis­sio­nais de di­fe­ren­tes uni­da­des de saúde re­la­ta­ram pro­ble­mas se­me­lhan­tes. O caso é tão grave e des­mo­ti­van­te que al­guns pro­fis­sio­nais che­gam a ficar doen­tes dian­te da pre­ca­rie­da­de das con­di­ções de tra­ba­lho, al­guns che­gam a so­frer de de­pres­são.

Um re­pre­sen­tan­te de Mos­so­ró re­la­tou que, na sua uni­da­de, os pro­fis­sio­nais que­rem tra­ba­lhar, mas dian­te de tan­tos pro­ble­mas isso é im­pos­sí­vel. "Fal­tam apa­re­lhos, mé­di­cos, me­di­ca­men­tos e con­di­ções de tra­ba­lho. A de­man­da é muito alta, há dias que ape­nas um mé­di­co é res­pon­sá­vel por fazer dez par­tos.

Se­gun­do ele, há pro­fis­sio­nais res­pon­sá­veis e com­pe­ten­tes, que que­rem tra­ba­lhar, mas não podem fazer nada por­que não têm as con­di­ções ne­ces­sá­rias. "Nosso sis­te­ma de saúde está to­tal­men­te de­sor­ga­ni­za­do. As pes­soas estão mor­ren­do a min­gua de­vi­do à falta de con­di­ções mí­ni­mas de aten­di­men­to", com­ple­tou.

Os sin­di­ca­tos são to­tal­men­te con­tra a mu­ni­ci­pa­li­za­ção dos hos­pi­tais re­gio­nais. Para eles, o mu­ni­cí­pio não con­se­gue tomar conta dos seus ór­gãos, tam­pou­co vai con­se­guir gerir um de porte maior. "Tem que haver in­ves­ti­men­to, pri­mei­ra­men­te, no in­te­rior, senão essa de­man­da não vai ter fim", disse So­raia Go­dei­ro, pre­si­den­te do Sin­di­ca­to dos Ser­vi­do­res Pú­bli­cos de Natal (Sin­se­nat).

Ge­ral­do Fer­rei­ra diz que os sin­di­ca­tos es­tu­dam rea­li­zar uma ação con­jun­ta con­tra um pro­ces­so de pri­va­ti­za­ção "que está sendo exa­ge­ra­do, com a subs­ti­tui­ção de um mo­de­lo que tem res­pon­sa­bi­li­da­de com a so­cie­da­de". Para ele, o que está se acen­tuan­do hoje é um mo­de­lo, que aten­de quem paga e "quem não paga, vira-se as cos­tas".

So­raia Go­dei­ro, disse que o dis­cur­so de ter­cei­ri­za­ção do se­cre­tá­rio es­ta­dual de Saúde, Do­mí­cio Ar­ru­da, "é an­ti­go", quan­do afir­ma que a con­tra­ta­ção de em­pre­sas e coo­pe­ra­ti­vas para pres­tar ser­vi­ços de saúde "é tran­si­tó­ria". Para ela, quem de­fen­de pri­va­ti­za­ção do SUS sem­pre se sai com esse dis­cur­so, "que isso é pas­sa­gei­ro e não toma me­di­das con­cre­tas para re­sol­ver a pres­ta­ção de um ser­vi­ço de qua­li­da­de", com a rea­li­za­ção de con­cur­sos pú­bli­cos, plano de car­rei­ra, ges­tão de re­cur­sos hu­ma­nos.
Correio da Tarde

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