quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Greve tem adesão em 12 hospitais 
O primeiro dia da greve geral dos médicos causou prejuízos aos que dependem do precário sistema de saúde. O movimento, iniciado ontem, tem a adesão em 12 dos 26 hospitais da rede estadual, com maior impacto em Natal, Mossoró e Parnamirim. Os médicos decidiram cruzar os braços, apesar do apelo da governadora Wilma de Faria. Eles,  pressionam o governo para reajustar os salário dos atuais R$ 2.050,00, referente a 20 horas semanais, e R$ 2.100,00, jornada de 40 horas, para R$ 7 mil, que passaria a ser o piso da categoria.

Elisa ElsieNo Hospital Santa Catarina, pacientes se aglomeravam em busca de atendimento médicoNo Hospital Santa Catarina, pacientes se aglomeravam em busca de atendimento médico

Uma reunião com as secretarias estaduais de Saúde e de Administração, e Planejamento e o Sindicato dos Médicos está marcada para hoje à tarde, na Sesap, para apresentação do estudo sobre o impacto financeiro que o reajuste causará aos cofres públicos. Os médicos aguardam a definição de uma proposta.

O impacto da paralisação atingiu diversos serviços e  a população, mais uma vez, foi penalizada. No Hospital Walfredo Gurgel, a realização de cirurgias de traumas  foi reduzida. Das sete salas do centro cirúrgico, apenas uma funcionava, condicionando os procedimentos a “um por vez”. Em paralelo, a fila de espera, em macas e leitos, aumenta com a chegada de novos pacientes em situação crítica.

A clínica médica, em greve desde o último dia 15, não sofreu alterações. Há 23 dias, os casos de menor complexidade são encaminhados para as unidades de assistência básica do município. Por outro lado, a procura de pacientes, conforme verificado nos últimos dias continua em baixa. 

Com a expansão da greve, a diretora geral do HWG, Hélida Maria Bezerra, confessa não saber como resolver a equação entre aumento da demanda no período de folia momesca, quando o número de atendimentos sofre incremento de  20%, e  a redução do corpo clínico para 30%. “É uma situação difícil, pois o HWG trabalha em dias normais com déficit de pessoal. Uma greve geral só acentua os problemas”, observa a diretora. O serviço de terapia Intensiva (UTI) deve ser o único a não sofrer impacto, por funcionar com somente um médico.

A solução para atender à reivindicação dos médicos pode ser desenhada, segundo Hélida Bezerra, a partir da incorporação dos mais de 4 mil funcionários  municipalizados, pelas prefeituras das cidades em que atuam. “Dessa forma o acréscimo financeiro, não recai na questão de limite prudencial, pois o repasse financeiro do Estado para esses municípios seria feito por uma outra fonte, que não é a folha de pagamento. Mas as secretarias de saúde e de administração que irão definir os caminhos”, explica Hélida.

O plantonista Luiz Antônio Paes Garcia lembra que a luta não é apenas por melhoria salarial, o aumento de pessoal até então não foi atendido. “Eles enviaram quatro médicos e teve baixa de três, ou seja, no final das contas é como se somente um fosse remanejado. Continuamos precisando de escala com quatro clínicos por plantão”, frisa o médico.

A suspensão do atendimento de oftalmologia, por sua vez se deu pela falta de médicos. O plantonista, segundo informação de funcionários da recepção não estava atendendo por motivos de saúde. A vendedora Sílvia Raquel Conceição da Silva, 22, precisou de cerca de duas horas para obter a informação. Com irritação e inchaço no olho direito, ela foi orientada a buscar atendimento em outra unidade ou retornar após às18h, quando estava previsto a presença de um especialista na escala. “Eu não tenho como esperar todo esse tempo, está incomodando bastante, coça, dói, fica lacrimejando e, mesmo entendendo a luta dos médicos, eu não tenho nada  com isso e não posso ser penalizada”, disse. Na recepção a informação era de que havia médicos nos pronto-atendimentos de Mãe Luíza, Cidade Satélite, Pajuçara e das Rocas. Em Mossoró, a greve prejudicou o atendimento no Tarcísio Maia.

Santa Catarina mantém atendimento ambulatorial

No Hospital Santa Catarina, zona Norte da cidade, apesar da adesão maciça dos médicos, o início da greve não alterou o sistema de atendimento. Os pacientes que procuraram a unidade na manhã de ontem eram atendidos, com um pouco mais de atraso de acordo com a gravidade da doença. Por conviver com um déficit de profissionais, a redução em 30% dos plantonistas não foi possível em alguns setores, sob pena de suspensão total do serviço.

No pronto-socorro, pessoas de todas as idades se amontoavam à porta dos consultórios em busca de alívio para os males, a maioria com sintomas de viroses gripais e diarréicas. Com três plantonistas no sistema de paralisação, o atendimento era feito por um a cada hora. Segundo o médico Luís Quaresma, não há para onde enviar os pacientes de baixa e média complexidade por falta de médicos na rede básica. “Acabamos fazendo todos os casos, não apenas as urgências, mas é preciso que a governadora também amenize nosso sofrimento e dê condições de trabalho. Em dias normais, trabalhamos com 30% por falta de médico”, disse o plantonista. “Vou ficar aqui o tempo que for preciso, porque mesmo em greve tem mais médicos do que no posto de saúde”, disse a dona de casa Ivanalba Dantas, moradora do Potengi.

Na pediatria, apenas os casos classificados como de urgência e emergência recebiam o socorro. A falta de medicamentos, como hidrocortisona indicado para crises alérgicas e complicações nas vias respiratórias, berotec, usado para nebulização, e buscopan para dores estomacais, além de insumos básicos  comprometem a qualidade do serviço prestado às crianças. “O maior problema são as unidades de saúde do município que não funcionam nessa região e estamos mandando os pacientes mais simples para o Pajuçara, mas a greve permanece”, disse o pediatra Lourenço Paiva. A unidade realiza por mês uma média de 3 mil atendimentos.

Maria Alice restringe atendimento

No Hospital Infantil Maria Alice Fernandes, o atendimento foi restrito aos casos graves. As mães que não conseguiram o atendimento para os filhos foram encaminhadas para as unidades mais próximas, que tinham médico, em Pajuçara,  Soledade e Nova Natal. “O impacto é menor, porque o volume de atendimento neste período também cai. Estamos com três clínicos, sendo dois de sobreaviso”, observa a diretora geral Lana Brasil. O Hospital atende por dia 200 crianças, de Natal e município vizinhos, dos quais 70% dos serviços é ambulatorial.

Pescadores

O reflexo do primeiro dia de greve  na rede de saúde do Estado pode ser medida no Hospital dos Pescadores, nas Rocas. A unidade que recebeu a maior parte dos encaminhamentos do hospital Walfredo Gurgel esteve lotada. Até o meio-dia, 98 pessoas receberam atendimento, quase 70% da média diária de atendimentos  de 150. O carteiro Erinaldo Rodrigues, que já esperava há mais de uma hora lamentava a greve. “Fui primeiro no Walfredo, mas jogaram pra cá (hospital dos Pescadores) e não há previsão que horas o médico vai chamar”, disse.

A vendedora Sílvia Conceição, encontrada no Hospital Walfredo Gurgel também se encaminhou para a unidade. A moradora de Nova Natal aguardava a consulta com um clínico para ser encaminhada a uma clínica oftalmológica conveniada. “Nessas horas a gente se sente um ninguém”, desabafa.

Cooperativas devem parar após carnaval

O atraso de cinco meses no pagamento das cooperativas médicas pode resultar em suspensão dos serviços, após o carnaval. Desde setembro, a Secretaria Municipal de Saúde não honra a responsabilidade no contrato bipartite, onde responde por 40% do valor equivalente ao pago pelo Sistema Único  de Saúde (SUS), repassado às Cooperativas dos Médicos (Coopmed), dos Anestesistas (Coopanest) e de Pediatria (Cipen). O contrato firmado a fim de garantir a realização de cirurgias eletivas na rede de hospitais conveniados, é celebrado com recursos do SUS (R$ 300 mil) e valor equivalente dividido entre a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), responsável por 60% do valor, e a  Secretaria Municipal de Saúde. Os demais repasses estão em dia.

O valor das dívidas e o tempo de inadimplência variam de acordo com cada entidade. Em comum,  apenas a incerteza quanto à continuidade da prestação do serviço.

A Coopmed, responsável pela realização de 14.429 cirurgias eletivas em 21 especialidades médicas, somente em 2009, com média de 1.202 procedimentos ao mês, está desde setembro sem receber pagamento. A dívida da SMS com a Coopmed, até dezembro, soma R$ 661.181.02,00.

O presidente Fernando Pinto, lamenta a não regularidade dos pagamentos e afirma que a situação está insustentável para os médicos. O contrato foi refeito em 28 de dezembro, apesar do atraso, sob promessa de regularização com a abertura do orçamento geral do município.

“Havia o compromisso da prefeita para acerto do débito com recursos garantidos no OGM e agora vão aplicar os recursos da saúde em outras áreas. É um problema cíclico, a Secretaria do município paga um atrasado e começa outro. Estamos aguardando definição até amanhã, se for negativa, após o carnaval haverá suspensão dos atendimentos.”, frisa Fernando Pinto.

Junto à Coopanest a dívida gira em torno dos R$ 400 mil, isso porque  para renovar o contrato por mais seis meses, em dezembro passado,  a prefeitura precisou quitar o débito de dois meses, referente a agosto e setembro, além de parte de outubro.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou, sem sucesso, contato com a secretária Ana Tânia Sampaio e o diretor do departamento financeiro da SMS, Ronaldo Machado, para esclarecimentos sobre a falta de repasse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário