Greve tem adesão em 12 hospitais
O primeiro dia da greve geral dos médicos causou prejuízos aos que dependem do precário sistema de saúde. O movimento, iniciado ontem, tem a adesão em 12 dos 26 hospitais da rede estadual, com maior impacto em Natal, Mossoró e Parnamirim. Os médicos decidiram cruzar os braços, apesar do apelo da governadora Wilma de Faria. Eles, pressionam o governo para reajustar os salário dos atuais R$ 2.050,00, referente a 20 horas semanais, e R$ 2.100,00, jornada de 40 horas, para R$ 7 mil, que passaria a ser o piso da categoria.
Elisa Elsie
No Hospital Santa Catarina, pacientes se aglomeravam em busca de atendimento médico
Uma reunião com as secretarias estaduais de Saúde e de Administração, e Planejamento e o Sindicato dos Médicos está marcada para hoje à tarde, na Sesap, para apresentação do estudo sobre o impacto financeiro que o reajuste causará aos cofres públicos. Os médicos aguardam a definição de uma proposta.
O impacto da paralisação atingiu diversos serviços e a população, mais uma vez, foi penalizada. No Hospital Walfredo Gurgel, a realização de cirurgias de traumas foi reduzida. Das sete salas do centro cirúrgico, apenas uma funcionava, condicionando os procedimentos a “um por vez”. Em paralelo, a fila de espera, em macas e leitos, aumenta com a chegada de novos pacientes em situação crítica.
A clínica médica, em greve desde o último dia 15, não sofreu alterações. Há 23 dias, os casos de menor complexidade são encaminhados para as unidades de assistência básica do município. Por outro lado, a procura de pacientes, conforme verificado nos últimos dias continua em baixa.
Com a expansão da greve, a diretora geral do HWG, Hélida Maria Bezerra, confessa não saber como resolver a equação entre aumento da demanda no período de folia momesca, quando o número de atendimentos sofre incremento de 20%, e a redução do corpo clínico para 30%. “É uma situação difícil, pois o HWG trabalha em dias normais com déficit de pessoal. Uma greve geral só acentua os problemas”, observa a diretora. O serviço de terapia Intensiva (UTI) deve ser o único a não sofrer impacto, por funcionar com somente um médico.
A solução para atender à reivindicação dos médicos pode ser desenhada, segundo Hélida Bezerra, a partir da incorporação dos mais de 4 mil funcionários municipalizados, pelas prefeituras das cidades em que atuam. “Dessa forma o acréscimo financeiro, não recai na questão de limite prudencial, pois o repasse financeiro do Estado para esses municípios seria feito por uma outra fonte, que não é a folha de pagamento. Mas as secretarias de saúde e de administração que irão definir os caminhos”, explica Hélida.
O plantonista Luiz Antônio Paes Garcia lembra que a luta não é apenas por melhoria salarial, o aumento de pessoal até então não foi atendido. “Eles enviaram quatro médicos e teve baixa de três, ou seja, no final das contas é como se somente um fosse remanejado. Continuamos precisando de escala com quatro clínicos por plantão”, frisa o médico.
A suspensão do atendimento de oftalmologia, por sua vez se deu pela falta de médicos. O plantonista, segundo informação de funcionários da recepção não estava atendendo por motivos de saúde. A vendedora Sílvia Raquel Conceição da Silva, 22, precisou de cerca de duas horas para obter a informação. Com irritação e inchaço no olho direito, ela foi orientada a buscar atendimento em outra unidade ou retornar após às18h, quando estava previsto a presença de um especialista na escala. “Eu não tenho como esperar todo esse tempo, está incomodando bastante, coça, dói, fica lacrimejando e, mesmo entendendo a luta dos médicos, eu não tenho nada com isso e não posso ser penalizada”, disse. Na recepção a informação era de que havia médicos nos pronto-atendimentos de Mãe Luíza, Cidade Satélite, Pajuçara e das Rocas. Em Mossoró, a greve prejudicou o atendimento no Tarcísio Maia.
Santa Catarina mantém atendimento ambulatorial
No Hospital Santa Catarina, zona Norte da cidade, apesar da adesão maciça dos médicos, o início da greve não alterou o sistema de atendimento. Os pacientes que procuraram a unidade na manhã de ontem eram atendidos, com um pouco mais de atraso de acordo com a gravidade da doença. Por conviver com um déficit de profissionais, a redução em 30% dos plantonistas não foi possível em alguns setores, sob pena de suspensão total do serviço.
No pronto-socorro, pessoas de todas as idades se amontoavam à porta dos consultórios em busca de alívio para os males, a maioria com sintomas de viroses gripais e diarréicas. Com três plantonistas no sistema de paralisação, o atendimento era feito por um a cada hora. Segundo o médico Luís Quaresma, não há para onde enviar os pacientes de baixa e média complexidade por falta de médicos na rede básica. “Acabamos fazendo todos os casos, não apenas as urgências, mas é preciso que a governadora também amenize nosso sofrimento e dê condições de trabalho. Em dias normais, trabalhamos com 30% por falta de médico”, disse o plantonista. “Vou ficar aqui o tempo que for preciso, porque mesmo em greve tem mais médicos do que no posto de saúde”, disse a dona de casa Ivanalba Dantas, moradora do Potengi.
Na pediatria, apenas os casos classificados como de urgência e emergência recebiam o socorro. A falta de medicamentos, como hidrocortisona indicado para crises alérgicas e complicações nas vias respiratórias, berotec, usado para nebulização, e buscopan para dores estomacais, além de insumos básicos comprometem a qualidade do serviço prestado às crianças. “O maior problema são as unidades de saúde do município que não funcionam nessa região e estamos mandando os pacientes mais simples para o Pajuçara, mas a greve permanece”, disse o pediatra Lourenço Paiva. A unidade realiza por mês uma média de 3 mil atendimentos.
Maria Alice restringe atendimento
No Hospital Infantil Maria Alice Fernandes, o atendimento foi restrito aos casos graves. As mães que não conseguiram o atendimento para os filhos foram encaminhadas para as unidades mais próximas, que tinham médico, em Pajuçara, Soledade e Nova Natal. “O impacto é menor, porque o volume de atendimento neste período também cai. Estamos com três clínicos, sendo dois de sobreaviso”, observa a diretora geral Lana Brasil. O Hospital atende por dia 200 crianças, de Natal e município vizinhos, dos quais 70% dos serviços é ambulatorial.
Pescadores
O reflexo do primeiro dia de greve na rede de saúde do Estado pode ser medida no Hospital dos Pescadores, nas Rocas. A unidade que recebeu a maior parte dos encaminhamentos do hospital Walfredo Gurgel esteve lotada. Até o meio-dia, 98 pessoas receberam atendimento, quase 70% da média diária de atendimentos de 150. O carteiro Erinaldo Rodrigues, que já esperava há mais de uma hora lamentava a greve. “Fui primeiro no Walfredo, mas jogaram pra cá (hospital dos Pescadores) e não há previsão que horas o médico vai chamar”, disse.
A vendedora Sílvia Conceição, encontrada no Hospital Walfredo Gurgel também se encaminhou para a unidade. A moradora de Nova Natal aguardava a consulta com um clínico para ser encaminhada a uma clínica oftalmológica conveniada. “Nessas horas a gente se sente um ninguém”, desabafa.
Cooperativas devem parar após carnaval
O atraso de cinco meses no pagamento das cooperativas médicas pode resultar em suspensão dos serviços, após o carnaval. Desde setembro, a Secretaria Municipal de Saúde não honra a responsabilidade no contrato bipartite, onde responde por 40% do valor equivalente ao pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), repassado às Cooperativas dos Médicos (Coopmed), dos Anestesistas (Coopanest) e de Pediatria (Cipen). O contrato firmado a fim de garantir a realização de cirurgias eletivas na rede de hospitais conveniados, é celebrado com recursos do SUS (R$ 300 mil) e valor equivalente dividido entre a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), responsável por 60% do valor, e a Secretaria Municipal de Saúde. Os demais repasses estão em dia.
O valor das dívidas e o tempo de inadimplência variam de acordo com cada entidade. Em comum, apenas a incerteza quanto à continuidade da prestação do serviço.
A Coopmed, responsável pela realização de 14.429 cirurgias eletivas em 21 especialidades médicas, somente em 2009, com média de 1.202 procedimentos ao mês, está desde setembro sem receber pagamento. A dívida da SMS com a Coopmed, até dezembro, soma R$ 661.181.02,00.
O presidente Fernando Pinto, lamenta a não regularidade dos pagamentos e afirma que a situação está insustentável para os médicos. O contrato foi refeito em 28 de dezembro, apesar do atraso, sob promessa de regularização com a abertura do orçamento geral do município.
“Havia o compromisso da prefeita para acerto do débito com recursos garantidos no OGM e agora vão aplicar os recursos da saúde em outras áreas. É um problema cíclico, a Secretaria do município paga um atrasado e começa outro. Estamos aguardando definição até amanhã, se for negativa, após o carnaval haverá suspensão dos atendimentos.”, frisa Fernando Pinto.
Junto à Coopanest a dívida gira em torno dos R$ 400 mil, isso porque para renovar o contrato por mais seis meses, em dezembro passado, a prefeitura precisou quitar o débito de dois meses, referente a agosto e setembro, além de parte de outubro.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou, sem sucesso, contato com a secretária Ana Tânia Sampaio e o diretor do departamento financeiro da SMS, Ronaldo Machado, para esclarecimentos sobre a falta de repasse.
O impacto da paralisação atingiu diversos serviços e a população, mais uma vez, foi penalizada. No Hospital Walfredo Gurgel, a realização de cirurgias de traumas foi reduzida. Das sete salas do centro cirúrgico, apenas uma funcionava, condicionando os procedimentos a “um por vez”. Em paralelo, a fila de espera, em macas e leitos, aumenta com a chegada de novos pacientes em situação crítica.
A clínica médica, em greve desde o último dia 15, não sofreu alterações. Há 23 dias, os casos de menor complexidade são encaminhados para as unidades de assistência básica do município. Por outro lado, a procura de pacientes, conforme verificado nos últimos dias continua em baixa.
Com a expansão da greve, a diretora geral do HWG, Hélida Maria Bezerra, confessa não saber como resolver a equação entre aumento da demanda no período de folia momesca, quando o número de atendimentos sofre incremento de 20%, e a redução do corpo clínico para 30%. “É uma situação difícil, pois o HWG trabalha em dias normais com déficit de pessoal. Uma greve geral só acentua os problemas”, observa a diretora. O serviço de terapia Intensiva (UTI) deve ser o único a não sofrer impacto, por funcionar com somente um médico.
A solução para atender à reivindicação dos médicos pode ser desenhada, segundo Hélida Bezerra, a partir da incorporação dos mais de 4 mil funcionários municipalizados, pelas prefeituras das cidades em que atuam. “Dessa forma o acréscimo financeiro, não recai na questão de limite prudencial, pois o repasse financeiro do Estado para esses municípios seria feito por uma outra fonte, que não é a folha de pagamento. Mas as secretarias de saúde e de administração que irão definir os caminhos”, explica Hélida.
O plantonista Luiz Antônio Paes Garcia lembra que a luta não é apenas por melhoria salarial, o aumento de pessoal até então não foi atendido. “Eles enviaram quatro médicos e teve baixa de três, ou seja, no final das contas é como se somente um fosse remanejado. Continuamos precisando de escala com quatro clínicos por plantão”, frisa o médico.
A suspensão do atendimento de oftalmologia, por sua vez se deu pela falta de médicos. O plantonista, segundo informação de funcionários da recepção não estava atendendo por motivos de saúde. A vendedora Sílvia Raquel Conceição da Silva, 22, precisou de cerca de duas horas para obter a informação. Com irritação e inchaço no olho direito, ela foi orientada a buscar atendimento em outra unidade ou retornar após às18h, quando estava previsto a presença de um especialista na escala. “Eu não tenho como esperar todo esse tempo, está incomodando bastante, coça, dói, fica lacrimejando e, mesmo entendendo a luta dos médicos, eu não tenho nada com isso e não posso ser penalizada”, disse. Na recepção a informação era de que havia médicos nos pronto-atendimentos de Mãe Luíza, Cidade Satélite, Pajuçara e das Rocas. Em Mossoró, a greve prejudicou o atendimento no Tarcísio Maia.
Santa Catarina mantém atendimento ambulatorial
No Hospital Santa Catarina, zona Norte da cidade, apesar da adesão maciça dos médicos, o início da greve não alterou o sistema de atendimento. Os pacientes que procuraram a unidade na manhã de ontem eram atendidos, com um pouco mais de atraso de acordo com a gravidade da doença. Por conviver com um déficit de profissionais, a redução em 30% dos plantonistas não foi possível em alguns setores, sob pena de suspensão total do serviço.
No pronto-socorro, pessoas de todas as idades se amontoavam à porta dos consultórios em busca de alívio para os males, a maioria com sintomas de viroses gripais e diarréicas. Com três plantonistas no sistema de paralisação, o atendimento era feito por um a cada hora. Segundo o médico Luís Quaresma, não há para onde enviar os pacientes de baixa e média complexidade por falta de médicos na rede básica. “Acabamos fazendo todos os casos, não apenas as urgências, mas é preciso que a governadora também amenize nosso sofrimento e dê condições de trabalho. Em dias normais, trabalhamos com 30% por falta de médico”, disse o plantonista. “Vou ficar aqui o tempo que for preciso, porque mesmo em greve tem mais médicos do que no posto de saúde”, disse a dona de casa Ivanalba Dantas, moradora do Potengi.
Na pediatria, apenas os casos classificados como de urgência e emergência recebiam o socorro. A falta de medicamentos, como hidrocortisona indicado para crises alérgicas e complicações nas vias respiratórias, berotec, usado para nebulização, e buscopan para dores estomacais, além de insumos básicos comprometem a qualidade do serviço prestado às crianças. “O maior problema são as unidades de saúde do município que não funcionam nessa região e estamos mandando os pacientes mais simples para o Pajuçara, mas a greve permanece”, disse o pediatra Lourenço Paiva. A unidade realiza por mês uma média de 3 mil atendimentos.
Maria Alice restringe atendimento
No Hospital Infantil Maria Alice Fernandes, o atendimento foi restrito aos casos graves. As mães que não conseguiram o atendimento para os filhos foram encaminhadas para as unidades mais próximas, que tinham médico, em Pajuçara, Soledade e Nova Natal. “O impacto é menor, porque o volume de atendimento neste período também cai. Estamos com três clínicos, sendo dois de sobreaviso”, observa a diretora geral Lana Brasil. O Hospital atende por dia 200 crianças, de Natal e município vizinhos, dos quais 70% dos serviços é ambulatorial.
Pescadores
O reflexo do primeiro dia de greve na rede de saúde do Estado pode ser medida no Hospital dos Pescadores, nas Rocas. A unidade que recebeu a maior parte dos encaminhamentos do hospital Walfredo Gurgel esteve lotada. Até o meio-dia, 98 pessoas receberam atendimento, quase 70% da média diária de atendimentos de 150. O carteiro Erinaldo Rodrigues, que já esperava há mais de uma hora lamentava a greve. “Fui primeiro no Walfredo, mas jogaram pra cá (hospital dos Pescadores) e não há previsão que horas o médico vai chamar”, disse.
A vendedora Sílvia Conceição, encontrada no Hospital Walfredo Gurgel também se encaminhou para a unidade. A moradora de Nova Natal aguardava a consulta com um clínico para ser encaminhada a uma clínica oftalmológica conveniada. “Nessas horas a gente se sente um ninguém”, desabafa.
Cooperativas devem parar após carnaval
O atraso de cinco meses no pagamento das cooperativas médicas pode resultar em suspensão dos serviços, após o carnaval. Desde setembro, a Secretaria Municipal de Saúde não honra a responsabilidade no contrato bipartite, onde responde por 40% do valor equivalente ao pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), repassado às Cooperativas dos Médicos (Coopmed), dos Anestesistas (Coopanest) e de Pediatria (Cipen). O contrato firmado a fim de garantir a realização de cirurgias eletivas na rede de hospitais conveniados, é celebrado com recursos do SUS (R$ 300 mil) e valor equivalente dividido entre a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), responsável por 60% do valor, e a Secretaria Municipal de Saúde. Os demais repasses estão em dia.
O valor das dívidas e o tempo de inadimplência variam de acordo com cada entidade. Em comum, apenas a incerteza quanto à continuidade da prestação do serviço.
A Coopmed, responsável pela realização de 14.429 cirurgias eletivas em 21 especialidades médicas, somente em 2009, com média de 1.202 procedimentos ao mês, está desde setembro sem receber pagamento. A dívida da SMS com a Coopmed, até dezembro, soma R$ 661.181.02,00.
O presidente Fernando Pinto, lamenta a não regularidade dos pagamentos e afirma que a situação está insustentável para os médicos. O contrato foi refeito em 28 de dezembro, apesar do atraso, sob promessa de regularização com a abertura do orçamento geral do município.
“Havia o compromisso da prefeita para acerto do débito com recursos garantidos no OGM e agora vão aplicar os recursos da saúde em outras áreas. É um problema cíclico, a Secretaria do município paga um atrasado e começa outro. Estamos aguardando definição até amanhã, se for negativa, após o carnaval haverá suspensão dos atendimentos.”, frisa Fernando Pinto.
Junto à Coopanest a dívida gira em torno dos R$ 400 mil, isso porque para renovar o contrato por mais seis meses, em dezembro passado, a prefeitura precisou quitar o débito de dois meses, referente a agosto e setembro, além de parte de outubro.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou, sem sucesso, contato com a secretária Ana Tânia Sampaio e o diretor do departamento financeiro da SMS, Ronaldo Machado, para esclarecimentos sobre a falta de repasse.
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